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BDRs: por que não investir seu dinheiro neles! - Diário de Omaha 39

BDRs: por que não investir seu dinheiro neles!

Por Thiago Duarte

BDR ou Brazilian Depositary Receipts, como o próprio nome já diz, são recibos ou certificados emitidos por bancos brasileiros, lastreados por ações estrangeiras. Essas ações ficam depositadas em outro banco, geralmente no país em que a ação da empresa é negociada, que vai funcionar como instituição custodiante da ação.

O banco brasileiro que emite o BDR vai ser o depositário do recibo e o responsável por verificar se o banco que custodia as ações anda fazendo tudo certo. Afinal, é preciso se certificar de que, realmente, o banco na gringa tem as ações bloqueadas para lastrear os recibos aqui.

logo das faangs

Em resumo, o banco aqui vai ser o depositário dos recibos e o banco na gringa vai ser o responsável pela guarda das ações, que ficam sob titularidade do banco brasileiro.

Para deixar fácil o entendimento, o banco brasileiro compra as ações no exterior e coloca essas ações numa conta específica do banco na gringa, onde elas ficam bloqueadas para negociação.

Suponha que tenham sido as ações de Amazon (AMZN), negociadas na Nasdaq, cujo programa de BDR é feito pelo Itaú. Depois que ele comprou as ações lá, e achou um banco para fazer a custódia delas, ele vai emitir vários certificados aqui no Brasil. Esses certificados são os BDRs, que são negociados na bolsa brasileira com o ticker AMZN34.

Trocando em miúdos, o BDR é um "título-valor mobiliário" que te dá direitos sobre uma quantidade X de ações estrangeiras, a depender da proporção existente entre BDR e Ação. Não, não precisa ser necessariamente 1 pra 1. No caso da própria Amazon, há uma relação de 20 pra 1. Ou seja, cada 20 BDRs representam 1 ação.

Sabe aquele cupom de crédito na venda da esquina, que você recebe do dono quando erra a conta da compra e devolve uma parte da mercadoria? No interior tem muito disso. Guardadas as devidas proporções, é quase a mesma coisa que um BDR. 😅

representação do procedimento

É fato que os BDRs tem muitos problemas. Apesar de existirem mais de 500 sendo negociados por aqui hoje em dia, a liquidez ainda é baixa na grande maioria deles. Mesmo para investidores menores, pode ser chato comprar BDRs de ações menos famosas, fora das big techs americanas e dos grandes bancos, por exemplo. Além disso, tem o risco Brasil que não é evitado (afinal seu dinheiro fica aqui), a ausência de faixa de isenção de IR para ganho de capital e o desconto de 3% a 5% nos dividendos, que o banco faz, na hora de repassar a bufunfa para o acionista.

Mas isso eu acho que todo mundo já está careca de saber. Se você jogar o tema no Youtube, é só escolher seu influencer preferido que ele vai te falar sobre isso. Só que tem uma coisa que ninguém fala: a exposição ao risco do banco depositário brasileiro.

Acontece que, além de analista de valores mobiliários, também sou advogado. E como todo advogado gosta de procurar uma lei sobre as coisas, foi exatamente o que eu fiz.

Lembra que as ações estão sob a titularidade do banco brasileiro, certo? É por isso que quem se relaciona com a empresa emissora das ações é o banco. Ou seja, é ele que exerce os direitos de acionistas dos investidores nas assembleias. Inclusive, é ele quem recebe os dividendos e repassa aos titulares dos BDRs, cobrando a taxa da qual a gente falou agora há pouco.

Mas isso tem um problema aqui no Brasil. Para lançar o BDR a gente copiou o sistema americano de ADR (American Depositary Receipts). Porém, nossa legislação não abarca o BDR tão bem como a legislação americana abarca o ADR.

Lá nos EUA é tudo lindo. O Common Law consagra a ideia da dupla propriedade. Lá existe a figura do trustee que tem uma propriedade imperfeita, somente destinada a atender os interesses do trustor, que é, de fato, o proprietário da coisa. O dono de verdade!

Tanto é que lá tem milhares de ADRs e os investidores estrangeiros investem neles sem maiores preocupações. Com exceção das empresas chinesas, mas aí já é por outro motivo, além de ser assunto para outro Diário.

Aqui no Brasil não é assim que a banda toca. Nosso sistema legal é baseado no Direito Romano, chamado de Civil Law, que tem diferenças significativas para o Common Law. Já começando pela quantidade de leis. No Civil Law tem lei para absolutamente tudo.

Por isso, como o BDR aparentemente se trata de um título, ele precisaria de uma lei específica que definisse sua natureza e suas características. Dito isso, para o BDR funcionar do jeito certo aqui no país, deveria haver uma Lei específica fazendo essa regulamentação. O problema é que essa lei não existe.

Até existe a instrução CVM 332 sobre o assunto. Mas adivinha só: instrução não é Lei. Lei, só pode ser criada, aqui, pelo Poder Legislativo e, em alguns casos, pelo Executivo.

Pode até não parecer complexo para você, mas do ponto de vista jurídico é. Nosso BDR tem uma natureza mista, já que ele tem características de um título de crédito misturado com valor mobiliário. É basicamente uma nova modalidade de título. A CVM, coitada, apesar de bem intencionada com a instrução 332, não está habilitada a criar modalidades novas de títulos. Teoricamente, é como se eles não existissem.

Somado a isso, o BDR é um instrumento que necessariamente implica em dupla propriedade da ação que dá lastro a ele. Uma propriedade formal, do banco emissor, que operacionaliza o instrumento, e outra material, pelo titular do BDR. Só que isso impõe uma espécie de relação fiduciária entre o banco e o investidor.

Para eu tentar sair do juridiquês aqui, propriedade fiduciária é o que acontece quando você financia um carro no banco. O banco mantém a propriedade formal do bem, na operação que a gente chama de Alienação Fiduciária. Já você mantém a propriedade material. É por isso que o documento sai no seu nome e você pode usar o carro como quiser. Mas se parar de pagar o financiamento o banco pode te tomar o carro.

Essas relações fiduciárias, no nosso direito, para terem validade, dependem de previsão legal. Por isso a falta de legislação específica sobre o tema fragiliza o sistema.

A principal consequência disso é que, em caso de falência do banco que emitiu o BDR, é possível que o investidor só tenha direito a um mero crédito quirografário nessa falência. Traduzindo: vai ter que se habilitar no processo de falência e rezar para receber seu dinheiro, já que vai ser o último na fila do pão atrás de uma pá de credores com garantias e preferências.

Não é nada igual ao que acontece com as ações. No caso de ações, a corretora é um mero intermediador das negociações. Uma vez que você compra a ação, ela fica armazenada no seu CPF, numa central depositária. No caso das ações negociadas na B3, quem faz a custódia é a CBLC - Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, hoje chamada de Câmara de Ações e Renda Fixa Privada. Ela é uma entidade auto regulada, gerida pela B3, que se financia através das famosas taxas de custódia.

Por isso não importa se a sua corretora quebrar. Suas ações vão estar lá, no seu nome, na CBLC. O que não acontece no caso do BDR.

Tudo bem que as instituições depositárias de BDRs aqui no Brasil são bem sólidas. Itaú, Bradesco e o próprio banco da B3 são os responsáveis pela maioria dos programas de BDR aqui. E parece improvável que qualquer um deles vá pedir falência.

Porém, não faz sentido eu comprar um BDR do Google e me expor a um risco duplo, aqui: um do setor de tecnologia americano e outro do setor financeiro brasileiro.

É fato que os BDRs podem ser convertidos em ações. Mas uma vez decretada a Recuperação Judicial (RJ) de algum desses bancos, parece improvável que você consiga a conversão, sem contratar um advogado e se habilitar no processo de RJ. Até porque, lembra da dificuldade legal que é explicar o BDRs?

Então, se você tem um dinheiro guardado aí e está pensando em comprar BDR, pense de novo e olhe a possibilidade de abrir uma conta numa corretora que te possibilite comprar as ações diretamente lá fora. Ainda mais hoje em dia, que a coisa está bem mais fácil de fazer.

😎 Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Fala, tropa! Dudu from Niterói diretamente de Paris à procura de Ciro Games!

Hoje eu tô só o meme “Não quelo trabalhar, quelo pix”. Por isso os estagiários que respondem pela cota, já é?

Bora pras notícias de ontem?

JOB DESCRIPTION - Na última quinta, dia 13/10, no debate para Governador do Rio Grande do Sul, o candidato com nome de chuveiro, Onyx Lorenzoni, meteu um shade pra cima do seu adversário Eduardo Leite, ao dizer que o povo gaúcho vai ter um “governador e uma primeira-dama de verdade”; uma clara tentativa de gongar seu adversário, que é assumidamente homossexual.

Mas aí me bateu uma epifania: qual é o trabalho de uma primeira-dama? O departamento de pesquisas sociais da NAM realizou um levantamento necessário.

Aparentemente, assim como o mercado de trabalho brasileiro, o cargo de primeira-dama evoluiu muito nos últimos anos, recrutando senhoras cada vez mais jovens, brancas, belas, recatadas e do lar. Pacote Excel não é necessário mas é um diferencial. Saber LIBRAS e chorar sem lágrimas em um culto é crucial para os cargos atuais.

FROM XI, WITH LOVE - Domingo, dia 16/10, começou a reunião quinquenal (fala do vocabulário do pai) do Partido Comunista Chinês. A resenha dura 1 semana e as lideranças do partido discutem sobre o planejamento e o futuro do país mais vermelho do mundo. Existe uma grande expectativa de que Xi Jinping (o homem, a lenda, a máquina, uma besta enjaulada com ódio) deva ser reconduzido ao cargo de Secretário-Geral, o que fará dele o principal líder chinês pela 3ª vez seguida.

Uma das principais falas de Xi Jinping durante o congresso, foi que a China “nunca desistirá de usar a força contra Taiwan”. A Ilha de Taiwan é considerada, pelo governo chinês, como uma província rebelde (tipo a nossa querida Cisplatina). Claro, se a China quisesse, Taiwan viraria poeirinha em poucos minutos, mas é uma poeirinha que mancha a roupa e é uma dor de cabeça pra sair e todo mundo vai te julgar. Então é melhor ir no papo.

Vamos acompanhando o desenrolar da história na terra da Shopee.

TROTSKY DOS TRÓPICOS - Leon Trotsky  “foi um intelectual marxista e revolucionário bolchevique, organizador do Exército Vermelho” (peguei da Wikipédia mesmo, vocês me perdoem). Resumindo, Trotsky foi um dos fundadores e idealizadores de um movimento ideológico, mas que perdeu uma guerra política para seu rival, que outrora foi seu amiguxo (Stalin) e teve que se isolar do outro lado do mundo, onde mesmo assim era acusado de um monte de conspiração (que nem existia), até ser morto por alguém que conhecia, mas que era do time da situação.

Claramente João Amoedo é o Trotsky dos Trópicos Liberais. O fundador bem intencionado (coisa abundante no inferno) do Partido NOVO (a atual sigla é “Nós Ovacionamos os Véio Oligárquicos) foi tirado de lado do partido e muita gente lá de dentro, que já foi liberal, mas agora é um braço de apoio ao bolsonarismo estadista, frita ele por esporte.

No sábado, dia 15/10, confiando na instrução do partido que, em tese, deu liberdade para os seus filiados apoiarem quem bem entendessem, declarou voto a Lula no 2º turno. Horas depois, o perfil oficial do partido também se pronunciou, queimando o pobre empresário rico e dizendo que “seu posicionamento não representa o Partido Novo e vai contra tudo o que sempre defendemos”.

Enfim, estamos agora no aguardo de João Amoedo se mudar para o México, para continuar a sua saga trotskyana tropical. Se bem que seria muito irônica uma viagem dele à Cuba. Será que Cuba lança um apoio desses?

EU MORO NA FESTA DA DEMOCRACIA - No domingo, 16/10, tivemos o primeiro debate presidencial para o segundo turno. Já adianto, nem quis ver pois a festa está indo pra final. Então está aquele clima meio morno, onde a cerveja boa já acabou e só besta tá dançando.

Maaaas, um ponto importante chamou a atenção de todos: o ex-juiz, ex-ministro e ex-enviesado, Sérgio Moro, estava na equipe, assessorando o seu ex-chefe, o presidente Bolsonaro. Lembrando que Moro se elegeu Senador pelo estado do Paraná (apesar do seu carisma de porta curitibana e lábios negativos).

Em 2020 Moro deixou o cargo de Ministro da Justiça, afirmando que o presidente Bolsonaro tentou interferir no comando da PF, entre outras acusações que ele fez contra o comandante do Estado tupiniquim. No início do ano, por exemplo, Moro disse que “entre o petrolão e a rachadinha, não há escolha possível”.

E ontem, de bom grado e coração aberto, ele estava lá com Bolsonaro. Pois a festa da democracia é isso! É chamar o amigo de bandido, mas depois dizer que a mídia entendeu errado ou que "tenho, sim, minhas divergências com o presidente Bolsonaro, mas as convergências são muito maiores".

Quando precisar escolher entre Jesus e Barrabás, escolha sempre Barrabás, pois não há Cristo na política brasileira.

Boa semana, meu afilhados! Juízo!

🍷 Sommelier

Consumimos de tudo. Trazemos o que importa

📃 Artigos

Capex Boom e o Novo Paradigma da Criação de Dinheiro

Por Guilherme Cruz

Russell Napier não é um dos "gurus de mercado" mais conhecidos por terras brasileiras, mas talvez devêssemos prestar atenção ao que ele tem falado recentemente.

Napier escreveu Anatomy of the Bear, considerado um clássico cult pelo Financial Times, onde ele analisa quatro dos grandes últimos ‘fundos’ do mercado norte-americano: 1921, 1932, 1949 e 1982.

A metodologia usada e o objetivo buscado por Napier são no mínimo interessantes. Em vez de teorizar sobre como os mercados deveriam funcionar nessas situações, ele observa como os mercados realmente funcionam. Para isso, Napier analisou mais de 70 mil artigos do Wall Street Journal, buscando encontrar as características que indicam que uma grande oportunidade de compra está surgindo.

Mas não é propriamente sobre o livro dele que vamos comentar hoje e sim sobre a última entrevista que ele deu. Depois de ter sido citada no Marginal Revolution do Tyler Cowen e de até Michael Burry te-lâ compartilhado, algo de valor deve dar pra tirar de lá.

tweet sobre a notícia

Vamos compartilhar aqui alguns dos melhores trechos, traduzidos pra vocês:

No verão de 2020, você previu que a inflação estava pra voltar e que estávamos pra assistir a um período prolongado de repressão financeira. Agora vemos uma inflação de 8+% na Europa e nos EUA. Qual é a sua avaliação agora?

A minha previsão mantém-se inalterada: o que está acontecendo é algo de natureza estrutural, não cíclica. Estamos experimentando uma mudança fundamental no funcionamento interno da maioria das economias ocidentais. Nas últimas quatro décadas, nos acostumamos com a ideia de que as nossas economias são guiadas por mercados livres. Mas estamos no processo de mudança para um sistema onde uma grande parte da alocação de recursos já não é deixada aos mercados. Não estou falando de uma economia de comando ou de marxismo, mas de uma economia em que o governo desempenha um papel significativo na alocação de capital. Os franceses chamariam este sistema de "dirigiste". Isso não é nada de novo, pois foi o sistema que prevaleceu de 1939 a 1979. Esquecemos como ele funciona, porque a maioria dos economistas são formados com uma base de livre mercado, não em história.

Por que esta mudança está acontecendo?

A principal razão é que nossos níveis de endividamento simplesmente cresceram demais. O total da dívida dos setores público e privado nos EUA está em 290% do PIB. Está em 371% na França e acima de 250% em muitas outras economias ocidentais, incluindo o Japão. A Grande Recessão de 2008 já nos deixou claro que este nível de endividamento é muito alto.

Como assim?

Em 2008, a economia mundial estava à beira de uma liquidação deflacionária da dívida, onde todo o sistema corria o risco de ruir. Sabemos disso há anos. Não podemos mais suportar as recessões normais e necessárias sem temer um colapso do sistema.

Portanto, o nível da dívida — privada e pública — em relação ao PIB tem que cair, e a maneira mais fácil de fazer isso é aumentando a taxa de crescimento do PIB nominal.

Foi isso o que foi feito nas décadas após a Segunda Guerra Mundial.

O que desencadeou este processo agora?

Meu argumento estrutural é que o poder de controlar a criação do dinheiro passou dos bancos centrais para os governos. Ao emitir garantias estatais sobre o crédito bancário durante a crise da Covid, os governos efetivamente assumiram as alavancas para controlar a criação do dinheiro. Claro, o empurrão para minha previsão foi que esta foi só uma medida de emergência temporária para combater os efeitos da pandemia. Mas agora temos outra emergência, com a guerra na Ucrânia e a crise energética que vem com ela.

Você quer dizer que sempre vai haver outra emergência?

Exatamente, o que significa que os governos não se retirarão destas políticas. Só para te dar algumas estatísticas sobre empréstimos bancários a empresas dentro da União Européia, desde fevereiro de 2020: de todos os novos empréstimos na Alemanha, 40% são garantidos pelo governo. Na França, são 70% de todos os novos empréstimos, e na Itália é mais de 100%, porque eles migram o crédito vencido antigo para esquemas novos, garantidos pelo governo.

Recentemente, a Alemanha criou um novo e enorme esquema de garantia para cobrir os efeitos da crise energética. Este é o novo normal. Para o governo, garantias de crédito são como a árvore mágica do dinheiro: a coisa mais próxima do dinheiro livre. Eles não precisam emitir mais dívidas governamentais, não precisam aumentar os impostos, apenas emitir garantias de crédito para os bancos comerciais.

E controlando o crescimento do crédito, os governos ganham uma maneira fácil de controlar e dirigir a economia?

É fácil para eles, pois as garantias de crédito são apenas um passivo contingente no balanço do Estado. Ao dizer aos bancos como e onde conceder empréstimos garantidos, os governos podem direcionar o investimento para onde quiserem, seja energia, projetos destinados a reduzir a desigualdade ou investimentos gerais para combater a mudança climática. Ao orientar o crescimento do crédito e, portanto, o crescimento do dinheiro, eles podem controlar o crescimento nominal da economia.

E se os bancos centrais não quiserem se alinhar e tentarem recuperar o controle sobre a criação de dinheiro?

Eles poderiam, mas pra fazer isso teriam realmente de entrar em guerra com seu próprio governo. Isso vai ser muito difícil, porque os políticos no governo dirão que são eleitos para prosseguir com essas políticas. São eleitos para manter baixos os preços da energia, eleitos para combater as alterações climáticas, eleitos para investir na defesa e para reduzir as desigualdades.

E você diz que hoje em dia é igual?

Sim. As pessoas gritam pela mudança energética, querem defesa contra Putin, querem fazer algo contra as alterações climáticas. As pessoas querem isso, e os governos eleitos afirmam seguir a vontade do povo. Nenhum banqueiro central se oporá a isso. Afinal de contas, muitas das coisas que estão associadas à repressão financeira [N.T.: não confundir com "recessão econômica"] serão bastante populares.

O que você quer dizer com isso?

A repressão financeira significa implantarmos uma taxa de inflação em torno de 4 a 6% e assim alcançarmos uma taxa de crescimento nominal do PIB de, digamos, 6 a 8%, enquanto as taxas de juros são mantidas em um nível mais baixo. Os poupadores não vão gostar, mas os devedores e os jovens vão. Os salários das pessoas vão aumentar. A repressão financeira move a riqueza dos poupadores para os devedores, e dos velhos para os jovens. Ela permitirá um grande investimento dirigido a coisas com as quais as pessoas se preocupam. Imagine o que acontecerá quando decidirmos nos libertar do nosso vício unilateral de ter praticamente tudo o que consumimos produzido na China. Isto significará um enorme boom doméstico ou de regiões próximas, com um investimento de capital em grande escala na reindustrialização de nossas próprias economias. Bem, talvez não tanto na Suíça, mas muita produção poderia voltar para a Europa, para o México, para os EUA, até mesmo para o Reino Unido. Não temos tido um boom de capex desde 1994, quando a China desvalorizou sua moeda.

Então, estamos apenas no início deste processo?

Absolutamente. Acho que precisaremos de pelo menos 15 anos de investimentos dirigidos pelo governo e de repressão financeira. A dívida total média em relação ao PIB está hoje em 300%. Você vai querer reduzir para 200% ou menos.

Qual é, então, o final deste processo?

Já vimos o jogo final antes, e isso foi a estagflação dos anos 70, quando tivemos uma alta inflação em combinação com uma alta taxa de desemprego.

As pessoas já estão falando da estagflação hoje.

Isso é um completo absurdo. Elas vêem uma inflação alta e uma economia em desaceleração e pensam que isso é estagflação. Isto é errado. A estagflação é a combinação de alta inflação e alto desemprego. Isso não é o que temos hoje, pois temos um nível recorde de desemprego baixo. Você fica estagnado após anos de capital mal alocado, o que tende a acontecer quando o governo interfere por muito tempo na alocação de capital. Quando o governo britânico fez isso nos anos 50 e 60, alocou muito capital na mineração de carvão, na produção de automóveis e no Concorde. Acontece que o Reino Unido não teve futuro em nenhuma dessas indústrias, isso foi desperdiçado e acabamos com uma alta taxa de desemprego.

Então o jogo final será uma estagflação ao estilo dos anos 70, mas ainda não estamos lá?

Não, nem de longe. Primeiro vem a parte aparentemente benigna, que é impulsionada por um boom no investimento de capital e um alto crescimento no PIB nominal. Muitas pessoas vão gostar disso. Somente muito mais tarde, quando tivermos alta inflação e alto desemprego, quando a escala do capital mal alocado se manifestar em um alto índice de miséria, as pessoas irão votar para mudar o sistema novamente. Em 1979 e 1980 eles votaram em Thatcher e Reagan e aceitaram a dura política monetária de Paul Volcker. Mas há uma jornada a ser percorrida para chegar a esse ponto. E não esqueça que, quando Thatcher e Reagan chegaram, a dívida para com o PIB já havia descido a novos patamares. Isso lhes permitiu introduzir suas políticas de mercado livre, o que provavelmente não teria sido possível se a dívida para com o PIB fosse muito maior. É por isso que estamos em uma longa jornada social e política. O que você aprendeu em economia de mercado nos últimos quarenta anos será inútil no novo mundo. Durante os próximos vinte anos, você precisará se familiarizar com os conceitos de economia política.

O que este novo mundo significará para os investidores?

Antes de mais nada: evite os títulos do governo. Investidores na dívida do governo são os que serão roubados lentamente. Dentro das ações, há setores que vão se sair muito bem. Os grandes problemas que temos — energia, mudança climática, defesa, desigualdade, nossa dependência da produção da China — serão todos resolvidos com investimentos maciços. Este boom do capex pode durar muito tempo. As empresas que estão voltadas para este renascimento dos gastos de capital vão se sair bem. O ouro se sairá bem quando as pessoas perceberem que a inflação não descerá aos níveis anteriores a 2020, mas se estabelecerá entre 4 e 6%. O desempenho decepcionante do ouro este ano está um pouco nublado pelo dólar forte. Em iene, euro ou libra esterlina, o ouro já se saiu muito bem.

Se você quer conhecer algumas das empresas que poderão se beneficiar desse "Boom do Capex", fique de olho no VBOX ! Empresas como WEGTupy e Aeris (próxima do setor) são grandes exportadoras de bens de capital e se beneficiam do investimento em infraestrutura crescente ao redor do mundo. Já aqui no Brasil, empresas como JSL , Vamos e Simpar (próxima do setor) fornecem as bases para infraestrutura e o crescimento da logística no país.

💻 Hackeando o Mercado

Make nerds great again 🤓.

Como utilizar o Python no mercado financeiro (aprenda na prática e de graça)

imagem divulgação bootcamp

Começou ontem o primeiro BOT.Camp da Edufinance.

Essa é uma oportunidade excelente para você aprender como o Python pode ser um dos seus maiores aliados no mercado, tanto se você for um investidor comum, querendo melhorar a sua análise e aumentar a sua rentabilidade, quanto se você estiver buscando trabalhar e se destacar nesse setor.

Nesta edição teremos 3 aulas, para te mostrar um pouco do que essa ferramenta é capaz de fazer, utilizando 2 cases práticos, pra colocar a mão na massa e já extrair resultados.

A aula 1 foi incrível e você pode conferir clicando aqui.

Na nossa aula 2, que acontece hoje às 19h, você vai aprender a criar um programa que gera um relatório financeiro de fechamento de mercado todos os dias e envia para uma lista de emails. Confira um pedacinho dele:

imagem divulgação bootcamp

imagem divulgação bootcamp

E pra fechar o evento com chave de ouro, amanhã, às 19h, você vai poder acompanhar a criação, do zero, de um modelo de investimento vencedor, baseado em factor investing.

Um detalhe importante é que não importa se você é iniciante ou avançado no mundo da programação, o BOT.Camp vai te agregar muito.

Para receber os links das próximas aulas e o material completo deste evento, é só clicar aqui e se inscrever.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

A distância entre ação e resultado diminui com a consistência. — @ShaneAParrish

Quem exige o mínimo de si exige o máximo da sociedade. — @SvenSchnieders

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e pensem 2x antes de botar sua grana em BDRs!

Boa semana e bons negócios!

Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão pro Diário? É só responder esse e-mail ou mandar uma mensagem no Twitter pros nossos editores @guilhermevcz e @thiagomd_1.

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